quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O findar de um ano é sempre tempo de colocarmos em balanço tudo o que   construímos, vivenciamos e conquistamos. É hora de indagarmos o que de bom e de ruim fomos capazes de realizar e perceber o que ainda necessitamos avançar, retroceder, modificar e caminhar. Muitas pessoas acreditam que somente crescemos com passos à frente, quando subimos um degrau em nossa vida, seja em que aspecto for. Contudo, podemos crescer e dar um salto ainda maior quando conseguimos mediante sofrimentos, tribulações e desafios, mexer com as nossas estruturas, com nosso caráter e nosso jeito de se colocar diante do mundo, de Deus e de nós mesmos. Crescemos quando encaramos de frente e sem rodeios aquilo que à primeira vista é tido como impossível ou complicado demais de ser superado. 


Nesse sentido é que nossa mensagem de final de ano, vem cheia de alegria, pois mesmo que não vislumbremos o que somente Deus tem a capacidade de 
entender, trazemos em nosso interior a plena certeza de que tudo concorre para o bem daqueles que O amam. Que possamos vivenciar com o coração aberto o grande mistério de natal, deixando que ele preencha o nosso ser e nos faça mais abertos ao amor, ao novo e, principalmente, à Deus. 
Que 2017 seja repleto de graças e bênçãos do Senhor. 

Grande abraço, Luis Fernando Cruz. 


Feliz e santo Natal e um abençoado 2017!

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Muitas pessoas já chegaram perto de mim e me perguntaram: Luis, como que se reza com a bíblia? Tenho certeza que você e outros conhecidos seus já fizeram essa pergunta a si ou a alguém, sobre como orar a partir da palavra de Deus. Já que estamos nos mês de setembro, mês em que a Igreja Católica volta-se com uma especial atenção à Sagrada Escritura, compartilho com vocês, no blog Itinerário Interior, um caminho que utilizo para rezar com a bíblia.

Este é um método, não o melhor, nem o único, contudo é o que me proporciona encontrar-se com Deus a partir das palavras sagradas. Este método conheci no seminário, a partir das colocações do Monsenhor Paulinho, nosso diretor espiritual na época. Então tentarei aqui, explicar de forma simples e bem rápida os passos de uma boa meditação e oração com a bíblia, através do método da leitura orante, ou, em latim, ‘Lectio Divina’.

1º PASSO: PREPARAÇÃO.
Procure um local tranquilo e que lhe conduza a oração e coloque-se numa posição confortável. Depois procure o texto que pretende rezar, que pode ser escolhido por você, ou indicado por alguém. Em seguida, faça o sinal da cruz e peça ao Espirito Santo, através de uma oração conhecida, ou ainda com suas próprias palavras, para que ele lhe inspire a entender e a rezar com a bíblia.

2º PASSO: LEITURA. 
Neste passo você irá ler o texto. Isso mesmo. Você irá ler calmamente. E se desejar, leia uma segunda vez. Você necessitará ter atenção para a leitura do trecho que escolheu. Após a leitura, vá refletindo e observando: o que o texto diz? Quais os personagens? Em que lugar estão? O que fazem? Quem fala ou dialoga com quem? Qual o assunto?

3º PASSO: MEDITAÇÃO. 
Após ler o texto e observado tudo o que se passa, convido-te a meditar. O que o texto, de uma forma especial, diz a mim? Quais as reações que ele traz ao meu coração? Este texto me alegra? Ou ainda: me interpela, me adverte ou me conforta?  Neste passo é preciso que você esteja atento a tudo que o Senhor lhe fala ao coração, a partir do texto bíblico. Ouça-O.

4º PASSO: ORAÇÃO. 
Depois de ouvir e de observar as reações que o texto provocou em seu interior, é hora de rezar. Se necessário, retome mais uma vez o trecho escolhido e se pergunte: o que este texto bíblico me leva a dizer a Deus em forma de prece, de oração?

5º PASSO: CONTEMPLAÇÃO OU COMPROMISSO. 
Eis que se chegamos a um importante passo. O momento em que você, depois da leitura, meditação e oração do texto lido, pode comtemplar a sua vida. Chegou a hora de assumir um compromisso a partir de tudo que o Senhor lhe proporcionou. Um compromisso simples, que será entre você e Deus. Algumas perguntas podem lhe ajudar: o que o texto bíblico me leva a agir? Me inspira a mudar minhas atitudes? Melhorar meu comportamento? Modificar minha forma de estar no mundo e diante de Deus?

6º PASSO: REGISTRAR: 
Registre em seu caderno de oração ou num papel o que sentiu ao ler o texto, e sobretudo uma frase ou versículo que mais tenha tocado o seu coração. Isso ajuda com que você sempre recorde do que leu e sentiu neste momento de oração.

7º PASSO: AGRADECER. 
Após terminar e contemplar sua vida e o que Deus deseja realizar nela, agradeça-O e termine com uma oração espontânea e trace sobre você o sinal da cruz.

Espero que este caminho que adotei para minha espiritualidade, também lhe ajude a rezar mais e melhor com a Palavra de Deus. Se desejar, recorte este texto e coloque-o dentro de sua bíblia para não esquecer dos passos da leitura orante. Ah, e se você ainda não teve essa experiência, não sabe o que está perdendo! Vamos, ânimo! Reserve um tempo do seu dia, por menor que seja! Deus quer falar contigo! Não perca tempo!

Que Deus abençoe você e sua família! Grande abraço!


Luis Fernando Cruz | www.itineráriointerior.blogspot.com.br

7 PASSOS PARA REZAR COM A BÍBLIA

sexta-feira, 12 de agosto de 2016



Certa vez, encontrei em meio aos meus escritos, uma carta de um pai que não chegou a entrega-la para seu casal de filhos antes que falecesse. Dizia assim:

Meus filhos, eu agradeço todos os dias a graça de Deus ao ter me presenteado com as suas vidas. Agradeço todos os dias a presença, o carinho e o aconchego de vocês. Agradeço a Deus as nossas peladas de domingo de manhã, as brincadeiras e as zoeiras que sempre me proporcionavam. Agradeço por me chamarem de seu amigo, seu irmão, seu super-herói e me darem aquele abraço bem apertado sempre que conquistava algo, era promovido, ou reencontrava comigo.

Agradeço todas as vezes que vinham a mim falando de um problema, uma dúvida, uma menina ou menino que lhes chamavam a atenção. Agradeço a Deus todas as vezes que ao iniciar o mês, podia trazer uma guloseima gostosa que amavam comer. Agradeço a Deus a oportunidade de levá-los sempre que pude à missa, e ver a atenção que davam as coisas Dele. Agradeço a Deus as vezes que fez minha mão e minha voz branda, quando necessitava corrigi-los e ensiná-los a maneira certa a proceder.

Agradeço a Deus as viagens que fizemos, mesmo que fosse a uma cidade próxima, ou a um lugarzinho mais afastado de casa. Agradeço a Deus a oportunidade de casar-me com a mãe de vocês, uma pessoa linda por dentro e por fora. Agradeço a Deus por ter conduzido as nossas vidas segundo a sua vontade.




Sei que não sou santo, nem perfeito, mas procurei levá-los mais perto daquele que ama vocês e à sua mãe, bem mais que eu: Deus. Que Ele lhes dê a benção e encaminhe seus passos, quando eu não estiver mais aqui, quando eu não puder mais olhar nos olhos de vocês e ver como cresceram, quando eu não tiver mais forças para falar, quando eu não dominar mais as minhas capacidades físicas, quando eu ficar bem velhinho e voltar a ser como criança, e sobretudo quando velar por vocês lá do céu.

Mas saibam, mesmo do meu jeito, carrancudo, as vezes frio e de cara fechada, eu sempre amei muito, mas muito mesmo, a cada um de vocês meus filhos e a minha amada esposa.
Permaneçam firmes na fé, permaneçam firmes em Deus, pois foi Ele que nos uniu como família, e tenho certeza que nos unirá novamente no céu, quando nos encontrarmos junto do Pai, no paraíso eterno.

A todos os homens que Deus concedeu o dom e a vocação da paternidade, em especial o meu querido Papai, Nilton Reis, minha homenagem e o desejo de um feliz dia dos Pais.

Um grande abraço!
Autoria: Luis Fernando Cruz | www. itinerariointerior.blogspot.com.br

Carta de um pai para os seus filhos

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Deus nos fala no cotidiano e no simples. Digo isto porque inúmeras vezes me surpreendo com atitudes que despertam em mim sentimentos e pensamentos que com o passar do tempo são esquecidos ou taxados como infantis por várias pessoas.




Como muitos, utilizo o transporte público para me locomover, mas aqui não vim pregar um discurso sobre a qualidade dos mesmos, mas traduzir em palavras os sentimentos que brotaram em meu coração a partir de um fato que observo todos os dias no percurso que realizo dentro do veículo público. Este texto vem falar especialmente disso, de uma simples viagem de retorno para casa depois do trabalho. As vezes nos é necessário um olhar apurado para observar no cotidiano o novo de Deus.

Bom, vamos lá. Num certo ponto do itinerário que minha linha percorre sempre entra uma jovem mulher. Séria, com um olhar sempre em direção ao horizonte. Algumas vezes entra só, outras vezes com algumas amigas. Contudo, num destes dias, ela veio se assentar num banco a frente do meu e começou a falar com sua amiga sobre a alegria que tinha de voltar do trabalho. Pensei. É, todo mundo tem alegria de retornar do trabalho para poder descansar e aproveitar do aconchego do lar. Mas esta mulher continuou dizendo que é muito bom voltar do trabalho para que possa receber um abraço.

Nesse momento, chega um amigo. Ele se assenta ao meu lado e começamos a conversar, e por isso não consegui entender o porque do abraço. Como sou muito curioso, fiquei encucado. Mas deixei pra lá. Acabou que meu amigo desceu logo em seguida, e eu continuava no ônibus com esta mulher, até que num certo tempo ela resolve descer, dá o sinal ao motorista, se encaminha para a porta, desce as escadas, e de longe, ouço uma voz: “Mamãe, Mamãe!”. Volto meu olhar para a rua, e vejo uma linda criança correndo, com um brilho nos olhos, em direção a sua mãe que acaba de descer do veículo.

As vezes, para você, este pequena cena, retirada do corrido cotidiano parece meio sem sentido, mas vou tentar explicitar o que me veio ao coração naquele momento. Precisamos retornar ao sentido verdadeiro do amor. Um amor que vai ao encontro. Um amor que não se cansa de esperar a quem ama. Um amor que se lança. Um amor que mesmo, ao passar das horas, dias e anos, não se cai numa rotina ou ali se permaneça esquecido.

Creio eu, que necessitamos todos os dias renovar nossa carga de amor. Renovar todos os dias aqueles que mais amamos, nosso carinho, nosso agradecimento, nosso amor. Somente quando permitirmos sermos rasgados pelo novo dentro do enorme cotidiano fatídico, saberemos compreender o amor, ou melhor, saberemos compreender a forma com que Deus nos ama.

Um grande abraço a você! 
Luis Fernando Cruz

Rasgue-se ao novo de Deus no cotidiano

segunda-feira, 3 de agosto de 2015


Somos fruto do amor de Deus. E por ser fruto e resultado do querer de Deus, somos dotados de uma capacidade especial que nenhum outro dos animais possui: a capacidade de transcender-se, de falar com o Criador.

A oração é um dos momentos especiais que temos para encontrarmos com o Senhor. Nela o coração de Deus e o coração do homem se encontram. Ao orar, entregamos para Aquele que conhece o nosso interior tudo o que passamos, sentimos e experienciamos. Nesse sentido, é correto afirmar que a nossa vida deve e precisa ser uma constante oração, um constante diálogo com o Deus.

A oração, segundo o Youcat, “é porta para a fé. Quem ora deixa de viver de si, para si e a partir de sua própria força”. Uma pessoa que ora sabe que há um Deus com quem pode falar, que há um Deus que o ama incondicionalmente e que vale a pena entregar-se mais e mais e depositar sob seu olhar tudo o que tem e é sem nada esconder. 

Segundo Santo Agostinho, “o nosso coração permanecerá inquieto, enquanto não repousar em Deus”. Nós oramos porque Deus depositou em nós um desejo infinito de transcendência, uma vez que não fomos criados para este mundo, mas exclusivamente para Ele. Sim, Deus nos criou para Si. Precisamos orar, precisamos fazer de nossa vida uma oração. Precisamos orar com o mais intimo de nós.

Em algumas de minhas direções espirituais aqui no seminário, meu diretor, muitas vezes, me advertiu sobre as ocasiões que fazemos um monólogo com o Senhor. Somente nós falamos e esquecemos de ouvir o que Ele tem a falar aos nossos corações. Nossa oração não pode ser somente um falatório, mas um dizer e um ouvir de ambos os lados. É necessário que coloquemos sim, no coração de Deus o que passamos, porém não deve parar nisso. É necessário que também exercitemos a escuta, esta que as vezes dói, machuca, traz palavras de correção, mas também de conforto e esperança.

Queria deixar um pedido ou, se preferir, um conselho de alguém que também como você, deseja ser mais de Deus, estar sempre com Ele. Querido irmão (ã), onde você estiver, seja onde for, faça deste lugar um espaço de oração pessoal. Nas celebrações e momentos comunitários de oração não se disperse e deixe o momento especial da graça de Deus passar sem que você absorva e faça um encontro pessoal com Ele. Não deixe que a Santa Missa seja como uma obrigação dominical, mas um momento imprescindível de escuta, de entrega, de renovação, de encontro.
Que nossas orações sejam simples, autênticas e agradáveis ao Senhor.
Deus abençoe você!

                             Luís Fernando Cruz, Seminarista do 3º ano de filosofia.


Sabemos orar?!

sexta-feira, 12 de junho de 2015



Nesta sexta feira, a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, dia em que somos convidados a meditar sobre o grande e inesgotável amor de Cristo jorrado de Seu lado aberto na Cruz por cada um de nós. Também neste dia se comemora o dia dos namorados, por isso também nos lembramos daqueles que estão vivenciando a experiência do namoro, bem como de todos os casais e os entregamos ao Coração de Jesus, a fim de que, inspirados por Seu amor, busquem viver a santidade, pautando seus relacionamentos nos valores evangélicos.

A liturgia de hoje nos convida a nos aproximar de Deus como aquele que necessita de um ombro amigo. Na primeira leitura, percebemos um Deus que se comove em seu íntimo e arde de compaixão por cada um dos seus. No Evangelho, João nos recorda a manifestação do grande amor de Cristo por nós na Cruz, de onde jorrou o manancial da salvação e da misericórdia divina para cada um de nós. A grandiosidade desse gesto é confirmada na segunda leitura, quando o apóstolo Paulo nos aponta que o amor de Deus ultrapassa todo conhecimento e que não pode ser mensurado nem pela altura, comprimento ou largura.

Por ser Amor, Deus colocou no mais íntimo do nosso ser, desde o início da criação, a capacidade de amar; e é só a partir deste inesgotável amor de Deus que conseguimos pensar em nossos relacionamentos e de viver realmente o amor. O amor Dele é capaz de preencher a nossa alma, a ponto de nos impulsionar a ir ao encontro do outro. Quando percebemos que Deus nos ama, sentimos a necessidade de ser também sinal da sua presença e o fazemos através das manifestações de afeto para com os nossos irmãos e irmãs.

Se hoje a sociedade passa por uma profunda crise de identidade e os relacionamentos estão cada vez mais difíceis, é porque, em algum momento, alguém se esqueceu da fundamental importância de Deus na relação com o outro. É como uma construção que foi construída sobre a areia, diante da primeira tempestade cai por terra. É justamente esse o problema que muitos casais enfrentam em seus relacionamentos. Casais que, no anseio pela independência, se aventuram num caminho que ainda não têm condições de percorrer. Casais que, influenciados pela cultura do capitalismo, se deixam levar por seus interesses pessoais e egoístas, pautados no utilitarismo e na ganância dos bens materiais. Casais que não buscaram no Coração de Jesus, aprender o que é, de fato, o amor.

Podemos até afirmar que somos eternos enamorados de Deus, pois durante toda a nossa vida, assim como na experiência do namoro, buscamos conhecer esse Outro absoluto, razão primeira da nossa existência. E como se sabe, em um namoro também se enfrenta momentos de dúvida, de incompreensão, de crises... É assim também na nossa história com Jesus, por vezes nos deixamos levar por aqueles detalhes que prejudicam o nosso relacionamento com Ele e nos afastamos, trilhamos outros caminhos, nos perdemos... Mas Ele é tão bom que não desiste de nós, sempre estará de coração aberto para nos acolher e nos mostrar qual caminho seguir, basta a nossa iniciativa de procurá-lo e de confiar no seu perdão.

E te pergunto, como conclusão: pode algo perdurar sem Deus? Como podemos desejar um relacionamento duradouro, se não há alguém que o oriente e o sustente, tendo em vista que possuímos tantas fraquezas, misérias e defeitos?! Portanto, nesta Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, busquemos nos achegar ao coração chagado de Jesus, de onde brota o amor mais sagrado que se possa imaginar. Peçamos a Ele a graça de viver plenamente o amor que ele nos deixou como mandamento, um amor que ama e acolhe, capaz de fazer sacrifícios por quem ama, um amor que não acaba com o tempo, um amor que sabe oferecer olhos, ouvidos, ombro e coração a todos quantos precisarem, atitudes Daquele que é o Verdadeiro Amor, razão da nossa esperança e força motivadora da nossa vida.

Que o Sagrado Coração de Jesus nos abençoe e faça do nosso coração semelhante ao Dele!


Luís Fernando Alves Cruz, Seminarista do 3º ano de filosofia.

CORAÇÃO CHAGADO, AMOR SAGRADO

quarta-feira, 3 de junho de 2015

“Tão sublime sacramento, adoremos neste altar, pois o antigo Testamento, deu ao novo o seu lugar, venha a fé por suplemento, os sentidos completar”. Sto. Tomás de Aquino.

Reunimo-nos, nesta quinta feira, para celebrar a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Essa celebração está diretamente ligada à da quinta-feira santa, dia em que fizemos memória da Instituição da Eucaristia, do mandamento novo e do sacerdócio. Tão precioso é o seu significado dentro da vida cristã, que somos convidados a sair às ruas e manifestar nosso amor, nossa adoração e nossa fé no Santíssimo Sacramento do Altar, presente nas espécies do pão e do vinho consagrados.

Certo dia, ao terminar de rezar em umas das comunidades onde realizo o meu estágio pastoral, senti que alguém, insistentemente, puxava a barra da minha túnica. Ao virar, percebi que era uma criança e me abaixei para conversar com ela. Com um semblante de curiosidade, ela me perguntou: "o que era aquele pãozinho branco que estava em cima do altar?". Ao ouvir a pergunta, fiquei pensando como explicar para aquela criança o grandioso mistério e significado da Eucaristia de uma forma que ela compreendesse. Depois de colocá-la sentada em um banquinho, abaixei-me e olhei em seus olhinhos que, brilhantes, esperavam uma resposta.

Na tentativa de responder e, ao mesmo tempo, querendo fazer com que ela mesma chegasse à resposta, lhe fiz uma pergunta: "você gosta de ganhar presentes?". Ela logo respondeu: "sim, eu adoro ganhar presentes". Prossegui com a conversa: "você gosta de estar perto do seu  papai e sua mamãe?". Respondeu com um sorriso: "sim, eu gosto muito de estar perto deles".  Com suas repostas eu já tinha condições para fazê-la compreender um pouco sobre como Jesus estava presente naquele pãozinho. Expliquei a ela que Jesus, ou melhor, o Papai do céu, sabendo que ia morrer naquela cruz para nos salvar e que teria de voltar para o céu, pensou em uma maneira de continuar presente em nosso meio.
Jesus, por nos amar muito, não se contentou em ficar sozinho no céu. Ele quis continuar bem perto de nós, morando ao nosso lado. Depois de dar-lhe essa dica,  perguntei: "você sabe qual foi o modo que Jesus encontrou para continuar presente no meio de nós?". Ela logo compreendeu qual era a resposta para a sua pergunta e, com um semblante alegre, respondeu: "ah sim, então está presente naquele pãozinho branco!". Fiquei contente por conseguir explicar para aquela criança algo tão importante e que muitas pessoas ainda não compreenderam.

Partilhei esse fato para renovar no seu coração, querido irmão(a), a certeza daquilo que aclamamos em todas as nossas celebrações: "Ele está no meio de nós!". Seu amor por nós é tão grande que se manifesta visível aos nossos olhos e torna-se alimento para a nossa alma. Que nunca nos esqueçamos que nosso maior tesouro, nosso maior presente, nossa felicidade e nossa realização têm um nome e é uma pessoa: Jesus Cristo. Corramos, portanto, ao seu encontro e façamos do nosso coração sacrários vivos da Eucaristia e nos tornemos anunciadores do amor Daquele que deu a vida para nos salvar, razão da nossa história e da nossa fé!


Luís Fernando Cruz, Seminarista do 3º ano de Filosofia

Eucaristia: sinal de Deus, alegria dos homens!

sexta-feira, 29 de maio de 2015


Neste domingo somos inseridos pela Sagrada Liturgia num dos grandes mistérios da nossa fé, a Santíssima Trindade. À primeira vista seria impossível à razão conceber a existência de um Deus em três pessoas distintas e que, ao mesmo tempo, seja uno. Na história da Igreja percebemos um grande esforço tanto de filósofos quanto de teólogos para traduzir, em palavras e em conceitos, este grande e inexaurível mistério.

Deus colocou em nosso coração o desejo da verdade, o desejo de conhecê-lo. Em sua encíclica Fides et Ratio, o grande e santo João Paulo II nos ensina que este desejo só será saciado quando nos utilizarmos de nossas duas asas: as asas da fé e da razão. Me responda: por acaso, um pássaro conseguiria voar com uma só asa? Nesse sentido, se absolutizarmos a compreensão e conhecimento de Deus somente em um âmbito teremos uma fé defeituosa; mas, quando nos utilizamos das duas asas, alcançaremos vôos maiores e mais altos até onde a nossa capacidade humana consegue alcançar.

Recordo-me de uma história contada no tempo de catequese que nos ajuda a entender e ilustrar a impossibilidade de se conhecer por completo este mistério. Certa vez, Santo Agostinho andava pela praia, se perguntando sobre este mistério. Ao se perguntar sobre isso, ele se depara com um garoto que, com um pequeno balde, recolhia a água do mar para depositá-la em um pequeno buraco cavado por ele na areia. 

Após observar a ação repetitiva do menino de pegar a água do mar e depositar no buraco, Santo Agostinho ficou incomodado, se aproximou e perguntou ao menino sobre o objetivo de sua ação. A resposta do garoto foi clara: colocar toda a água do mar naquele buraco. No mesmo instante, o santo o interpelou dizendo ser impossível executar o que tinha se proposto. E sua resposta veio no mesmo momento. O garoto disse que seria mais fácil colocar todo o mar naquele pequeno buraco que a sua inteligência compreender totalmente o mistério da Santíssima Trindade. 

Ao tomar a palavra “mistério” em alguns dicionários de língua portuguesa, encontramos como uma das explicações, que se refere a algo que não pode ser conhecido totalmente, mas em partes. No decorrer dos tempos, a partir de uma aprofundada exegese, aliada ao Magistério e à Tradição, avançamos muito na compreensão deste importante mistério de fé.

Só mesmo, portanto, a partir da Revelação de Deus, que foi se manifestando ao ser humano ao longo da História, plenificada em Jesus Cristo e confirmada através da força do Espírito Santo, é que podemos afirmar, com toda a certeza de nosso coração, a existência de um Deus que, transbordando de profundo amor para conosco, se revela em três pessoas: no Pai, no Filho e no Espírito Santo. É neste Deus, é nesta fé, que somos, existimos e nos movemos. Uma Trindade que é puramente uma comunhão de amor: “de um que ama, um que é amado e uma fonte de amor”.


Luís Fernando Cruz, Seminarista do 3º ano de filosofia.

Trindade: um mistério que se revela a nós por bondade de Deus